sábado, 17 de julho de 2010

Sajama

Condoriri

Desde La Paz

Depois de três semanas na Bolívia, estamos voltando hoje para São Paulo. Gostaríamos de agradecer aos nossos compañeros bolivianos: Felix, Eulogio, Mario, Ignácio, Nolberto, que nos acompanharam nas montanhas; e Jenaro e Juan Carlo, que nos apoiaram na organização desta expedição. E também aos nossos amigos e companheiros de aventuras, a quem dedicamos este blog: Lena, Paulo, Paty, Edu, Carla, Mauricio, Márcia, Carol e Cid. Laura e Gert

abandonando a montanha

Logo às sete da manhã, fizemos o primeiro contato com o trio que, na verdade, estava preso pelo vento dentro da barraca no acampamento superior. Já haviam decidido abandonar a montanha também, as condições eram impossíveis. Estavam aguardando os porteadores e assim que o vento amainou, desceram. Por volta da hora do almoço, já estávamos todos reunidos novamente. À tarde, como não podia deixar de ser, terminamos nossa expedição com todos imersos nas deliciosas águas termais, dando boas risadas, apesar do forte cheiro de enxofre. Gert Seewald

deixando a montanha

A saída para a montanha estava marcada para às 10hs da manhã. Seriam aproximadamente 6 horas de caminhada até os 5.700 metros de altitude, onde seria montado o acampamento alto. Na noite seguinte, partiríamos para o cume às 4:00hs da madrugada. Amanheci com Gert ainda acordado ao meu lado. Decidimos permanecer no acampamento base até o dia seguinte, para que ele se recuperasse da noite insone. Acompanhamos a subida da turma por um binóculo. Antes mesmo do meio-dia, Paulo e Cid retornaram com Mario, um dos guias. O vento estava brabo lá em cima, e a gripe trazida de São Paulo dificultava tudo. Mantendo a comunicação por rádio com os que seguiam subindo, recolhemos o necessário em poucas mochilas, e descemos para 4.200 metros de altitude, em um refúgio à beira de águas termais. No final do dia, recebemos a notícia de que o vento estava furioso, a uns 80km/hora, e quase todos haviam descido de volta para o acampamento base. Apenas 3 pessoas permaneceram na montanha: Lena, Carol e Nolberto, o guia. Eles passariam a noite acampados um pouco abaixo do que seria o acampamento alto, pois o vento os impedia de subir mais, e a vontade de tentar o cume não os fazia voltar. Enquanto isso, estávamos submersos nas águas termais, conversando e aproveitando este tempo, que, afinal, é de férias... Laura Mansur

a pior das noites no Sajama

Cinco horas em autobus atravessando o Altiplano Boliviano, e então chegamos à trilha que da acesso ao Sajama, vulcão extinto com 6.542 m. Carregamos os burros com nossos equipamentos e caminhamos mais 2,5 horas até o acampamento base. O frio e o vento intensos, logo nos deram uma amostra do que nossa equipe, agora composta por 11 alpinistas, enfrentaria. Um mal estar, em um lugar tão inóspito e a 4.800m altitude, pode tomar proporções catastróficas, e foi mais ou menos o que ocorreu. Ainda durante o jantar, comecei a ter dores abdominais terríveis. Em pouco tempo, me contorcia no chão da barraca, a uma temperatura de -8o C. Tomei analgésicos, e logo consegui dormir. Para meu desespero, acordei poucas horas depois com uma crise de apnéia, um mal bastante comum em grandes altitudes. O terror de pegar no sono e novamente ser acometido pela falta de ar me fez ficar olhando para uma headlamp acesa pelas próximas 5 horas. Quando a luz do dia chegou, estava completamente destruído, aquela havia sido uma das piores noites da minha vida! Estava fora do ataque à montanha, que se daria dali a poucas horas. Gert Seewald

entre as montanhas, uma noite

Depois de seis dias acampados no Condoriri, viemos para La Paz. Apenas um fim de tarde e uma noite na cidade caótica – tempo suficiente para rearranjar as mochilas, tomar um belo banho quente, e descansar em uma cama. No dia seguinte, às 8:00hs da manhã, o carro já passaria no hotel para nos pegar e irmos para mais uma montanha. Desta vez, um vulcão, o ponto mais alto da Bolívia: Sajama. Laura Mansur

Equipamento no Condoriri

Em uma mochila, tínhamos painel solar, bateria de nobreak 7 ampéres, conversor de 12 volts para 127 volts e cabos para ligar tudo isso e tentar reabastecer as energias dos nossos equipamentos de filmagem. Apesar do frio, os dias eram ensolarados e tudo funcionou muito bem. Voltamos de lá com bastante material filmado e muitas fotos. Laura Mansur

Acampamento no Condoriri

Além das seis barracas para dormir, tínhamos também uma grande barraca-refeitório, onde muitas vezes nos escondíamos do vento para tomar chá e conversar, e uma barraca-cozinha, onde era quase impossível entrar para de tanta coisa ali dentro! Todos os dias no café da manhã, Maurício nos informava a temperatura que seu relógio havia marcado dentro da barraca. A mínima foi -3o, a máxima foi -6o. Isso dentro da barraca! Agora vocês imaginem que para sofrer menos com a altitude, temos que tomar uma média de 4 litros de liquido por dia, e que isso nos leva a ter que sair várias vezes pra fazer xixi no meio da madrugada... É uma experiência e tanto! Laura Mansur

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ataque ao cume

À meia-noite soou o apito. Levantamos, nos encapotamos, e saímos do acampamento `as 2 da madrugada. No início, o montoeiro de roupas e a incerteza do que estava fazendo me incomodou. Mas bastou chegar ao ponto inicial da montanha, vestir os apetrechos e iniciar a aventura que tudo foi melhorando. Durante quase cinco horas, caminhamos montanha acima, na neve, na escuridão da noite. Apenas as luzinhas das lanternas e o céu estrelado iluminando o caminho. A neve brilhava, e o silêncio da noite era invadido pelo compasso das respirações, dos passos e das piquetas. Ao amanhecer, estávamos já bem alto. O vale, a cordilheira real e a imensidão alaranjados. Chorei emocionada. É uma situação incrível de se estar no mundo. Às 8:30 da manhã chegamos ao cume do Tarija – aproximadamente 5.300 metros de altitude. A vista lá de cima mais uma vez emociona. Um xixi nas alturas, um lanche, fotos, sorrisos e meia-volta-vou-ver. O cume do Pequeño Alpamaio, com a sua longa aresta exposta, fica para a próxima. Às 14:30hs estávamos de volta ao acampamento, depois de 12 horas caminando.

A 100m do cume...

A madrugada estava perfeita, céu estrelado, nenhum vento, a velocidade de ascensão parecia ideal. Na ultima rampa de acesso ao colo, quase apaguei umas 3 vezes, resultado de ter negligenciado a alimentação e a hidratação. A 100m do cume acabaram as minhas forças, como descrevi naquele instante, “estava pra lá de Bagdá”. Por ali fiquei me recuperando e esperando o sol chegar, assisti de camarote o ataque final do restante do grupo. Gert Seewald

Illusion

Equipe completa: oito alpinistas e três guias locais. Coordenar a equipagem de toda esta gente e conseguir sair cedo é um grande desafio. Resultado: deixamos o acampamento com a manhã já bem avançada. Devido à grande diferença de aclimatação de cada um, a progressão e o ritmo das cordadas através do glaciar eram lentos. No meio da tarde, quando a posição do sol projetou a sombra da montanha sobre nós, a temperatura despencou de maneira assustadora, e ainda nos faltavam pelo menos duas horas até o cume do Illusion. A ameaça de terminar a descida à noite, nos fez abandonar o ataque final. Descemos a montanha apressadamente e ao chegar no acampamento completamente exaustos, decidimos que o dia seguinte seria dedicado ao descanso, para aí sim, no outro dia, tentarmos ataque a um outro cume. Gert Seewald

domingo, 11 de julho de 2010

prática no glaciar

Depois de uma hora caminhando sobre pedras com as botas plásticas pesando nos pés e endurecendo os tornozelos, chegamos ao glaciar. Comemos um lanche, tomamos mais água, e nos preparamos: crampons, piquetas, capacete, e cadeirinha cheia de mosquetões e cordas. A neve se transforma, e aos poucos vamos aprendendo a pisar conforme o seu estado. Algumas horas caminhando para sentir o terreno, e caminhar sobre gelo com 12 pontas de ferro em cada pé torna-se quase natural. Fomos então encarar a parede de uma greta. Para alguns, apenas uma parede de gelo. Para mim, um verdadeiro desafio vertical onde nunca havia me imaginado... Laura Mansur

ida ao Condoriri

Saímos de La Paz às 9hs da manhã. Depois de quase três horas no ônibus, descemos em um descampado, onde já nos esperavam algumas cholas, com seus burros cargueiros. Num passe de mágica, uma mesa foi posta, e almoçamos tranquilamente. Mais duas horas de caminhada, no meio de um lindo vale, cada um com uma mochila nas costas, e chegamos ao lugar do acampamento: na beira de um lindo lago azul, com as montanhas encantando a vista. Antes da janta, uma revisão de como fazer os nós nas cordas e o planejamento do dia seguinte: alguns subiriam o Austria, e os outros iriam ao glaciar para praticar caminhada no gelo, com crampons, botas plásticas e piquetas. Laura Mansur

terça-feira, 6 de julho de 2010

às montanhas

Aeroporto de guarulhos fechado por algum tempo, e a 2a metade da nossa turma de expedição ficou 4 horas na fila do guichê da tam para descobrir então que não poderiam embarcar por falta de lugar no avião. Voltaram pra casa em São Paulo, e nós em La Paz amanhacemos no domingo com um email noticiando o causo. Tudo adiado. Chegaram hoje. O dia foi de ajustes e brindes por estarmos todos acá. Mochilas arregladas: botas duplas, piquetas de marcha, capacetes, crampons, lanternas, câmeras, microfone, primeiros socorros, barrinhas de cereais, água, chá de coca, saco de dormir para -18o, e roupas bem quentinhas. Amanhã cedo partimos para nossa primeira empreitada. Ficaremos a semana no meio das montanhas do Condoriri. Laura Mansur

segunda-feira, 5 de julho de 2010

São Pedro no sertão

Tiahuanacu é um sítio arqueológico na Bolívia rural. Depois de uma hora e meia apertados em nossa primeira experiência de viagem em mobilidad, descemos no campo e fomos caminhar pelas ruínas. Ao longo do dia, o encanto por aqueles traços de uma vida tão antiga, os silêncios da imaginação de um tempo pré-incaico sobrevivente nas pedras, e uma mesma música que vinha da direção do vilarejo... O vilarejo seria nossa última visita, pois ali pegaríamos de volta la mobilidad para La Paz. Depois de muitas horas pelas ruínas, fomos conhecer a igreja, que víamos de longe e parecia ser interessante. Ao chegar na praça, a igreja fechada. A festa era na rua: dia de São Pedro, 29 de junho, aniversário da minha vó. Uns quatro grupos, com umas 20 pessoas cada, todos fantasiados, tocavam e dançavam la misma musica, todos, o dia inteiro. Muitos bolivianos assistindo, pouquíssimos turistas, e um palco com jurados. Impossível compreender como eles distinguiam os grupos e as performances para julgar... A festa foi uma bela surpresa de vida no meio de tantas ruínas silenciosas e pré-incaicas, alimentando nosso universo boliviano. tem mais fotos da festa e das ruínas no flickr. Laura Mansur

domingo, 4 de julho de 2010

Huatajata

Quinta-feira, pegamos mais uma vez una mobilidad ao lado do cementerio. Desta vez, para um lugar desconhecido: Huatajata. A estrada é paralela à cordilheira real, e chega no Titicaca - o lago mais alto do mundo. De um azul que chega a parecer de mentira. Descemos no ermo, onde havia algumas construções e uma placa escrita à mão: "huatajata". Caminhamos de volta algums kilômetros, até onde havíamos visto na estrada uns restaurantes e um grande hotel. A trucha a la plancha no restaurante na beira do lago estava dos deuses. Paceña y foto no disparo automático para brindar o passeio. Por conta da água, o ar é mais úmido, e aproveitamos para respirar sem esforço. Caminhamos bastante, e no meio deste caminho, encontramos os lindos barcos de totora - que não são mais utilizados nem para pesca, nem para passeios turísticos. Laura Mansur

RA-II -Paulino Estéban

Esta é pra matar de inveja! Durante a semana fomos respirar um ar mais úmido, às margens do lago Titicaca, a localidade escolhida foi Huatajata. Neste local, existe uma espécie de oficina onde ainda se constroem barcos de junco, na linguagem local TOTORA. E qual não foi minha surpresa, ao descobrir que o Sr. Paulino Estéban, com quem ja conversavamos a 20 minutos, era construtor e membro da expedição RA-II, de um dos meus grandes ídolos, o norueguês Thor Heyerdahl. Estes presentes da vida são os melhores... Gert Seewald

Chacaltaya

Ontem fomos para as montanhas pela primeira vez, Chacaltaya, apesar de ser uma subida bastante fácil, a altitude sempre maltrata. O objetivo era testar os equipamentos de áudio e vídeo. Tudo funcionou super bem, apesar da temperatura não estar tão baixa, mais ou menos 3 °C. Outra grande surpresa foi ver esta montanha quase toda nua, bem diferente da capa de neve que a cobria vinte anos atrás. Gert Seewald

sábado, 3 de julho de 2010

primeiro cume! 5430m

Hoje fomos forçar um pouco a aclimatação: subida ao Chacaltaya - uma montanha de 5430 metros, com poucos resquícios de neve (já foi pista de esqui!), e muitas pedras. Caminhamos calmamente, com folhas de coca no canto da boca, respeitando a altitude e a montanha. Cada vez que o coração disparava, baixávamos a velocidade, respirávamos fundo, e adelante. Depois de uma hora caminhando, cheguei ao meu primeiro cume! Eu, que semprei fui apaixonada pelo mar, estou encantada com as montanhas. Os caminhos, as vistas, o vento, a calma, e a sensação de chegar onde já não há mais pra onde ir. Laura Mansur

ps

continuo usando o flickr, lá tem mais fotos: flickr.com/photos/andarilha

sexta-feira, 2 de julho de 2010

preparação

Há vinte anos fiz minha primeira viagem pela America do Sul, a porta de entrada foi esta mesma Bolívia, onde me encontro agora. Diferentemente daquela viagem, típica de mochileiro, uma pequena equipagem, 50 dias com apenas 400 dólares, esta tornou-se um bocado mais complexa. Exigiu um ano de planejamento, e uma verdadeira montanha de equipamentos. Muitos destes foram encomendados, e chegaram da Europa e EUA desde o final do ano passado até os últimos dias antes da partida. Encontramo-nos agora na reta final: desde o dia 27 estamos aqui em La Paz, nos aclimatando e preparando os detalhes de organização. Escalar montanhas tem sua dificuldade por si só; em paralelo, documentar isto, muito provavelmente, triplica o problema! O local escolhido é a Cordilheira Real, onde se encontram inúmeras montanhas com mais de 5.000m de altura e pelo menos 6 com mais de 6.000m. Os últimos membros da expedição chegam domingo. Nosso objetivo primeiro é o maciço do Condoriri, a partida é segunda dia 5, vamos ver onde conseguimos chegar. Gert Seewald

início

Depois de muitas viagens documentadas e compartilhadas por emails enviados, cartões postais, diários de viagem, e albuns no flickr, resolvemos juntar as impressões desta viagem em um único lugar: desde-lapaz. A viagem começou há seis dias, e La Paz ainda surpreende com seu caos e suas montanhas al rededor. O trânsito é um salve-se-quem-puder. Não sabemos quem são os mais loucos: os carros que não param, ou os pedestres, que vão atravessando sem esperar que os carros parem. Carros particulares, raramente se vê. A cidade é um mar de vans, mobilidades, que param em qualquer lugar e te levam pelo equivalente a 40 centavos de real. Nas ruas, as cholas são maioria, com suas saias, tranças e chapeuzinhos. Aqui, até os turistas são típicos turistas. Estamos no centro, onde as ruas são abarrotadas de pequenas tiendas vendendo bolsas, brincos, panos, polainas, gorros e casacos bolivianos. Se fosse em outra viagem, talvez já tivesse comprado uma bolsa ou um pañuelo, que são lindos e me encantam con sus colores. Mas tô adorando esta novidade de me preparar para um universo desconhecido, onde nunca havia sequer me imaginado: expedição em montanhas. Laura Mansur